Nunca esqueça de si mesma/mesmo

26/05/2022

Como já contei aqui, sou terapeuta há 30 anos. Neste tempo todo, fui procurada por muitas pessoas que não conseguiam mais saber do que gostavam e desejavam para a vida. Era como se em algum momento da vida, elas tivessem ficado para trás na própria história. E confesso, isto também já aconteceu comigo.

Eu recebo e acolho com cuidado cada história, buscando entender o quando, para que e em quais circunstâncias isto aconteceu. Mais ainda, peço para me contarem como está a vida hoje, a ponto de existir o problema/ queixa.

Quase sempre as narrativas são parecidas e se constituem assim: “eu não fiz tal coisa, não tomei tal decisão, porque na hora eu não tinha escolha, era o que precisava ser feito era “x”, não pensei em mim”.

Tudo certo, se a pessoa tivesse parado ali, naquela decisão. Mas como num redemoinho, foi sendo envolvida por mais e mais demandas (familiares, amorosas, profissionais, sociais) sem tempo de olhar para si. E muitas delas envolviam sim o uso do dinheiro, impactando na postergação dos próprios projetos.

Aí, num belo dia, ela literalmente acorda com um vazio no peito, uma angústia, querendo mudar a vida mas sem saber por onde começar, até porque não sabe mais direito quem é.

Reconhece que fez seu melhor, mas não a pessoa que foi um dia, alinhada com seus valores e desejos. Não reconhece a felicidade que a habitava, pois havia gradualmente se despersonalizado, inclusive financeiramente. E aí me apresenta a frase “sinto saudades de mim mesma/ mesmo”, que de verdade, dói meu coração só de ouvir.

Então, começamos a compreensão das escolhas e narrativas do passado, buscando entender a história daquelas escolhas, ressignificando seus significados e sentidos, afinal na maioria das vezes cada um faz o seu melhor.

Também ajudamos a pessoa a redescobrir suas forças, suas competências e gostos, a se resgatar. E ela vai, aos poucos, tecendo uma nova trama para a vida, na qual é o/a protagonista, diferenciada do sistema familiar (lembrem-se de meu post anterior, sobre conseguir crescer).

Algumas vezes o dinheiro também estará presente, outras não. Aqui, o que importa é o resgate de um eu potente, que por razões múltiplas, cedeu constantemente a um outro (seja amor, família, trabalho, amizade).

Um eu que relembrado e resgatado, posiciona-se no presente com coragem e maestria, pronto para seguir adiante com a melhor companhia: si mesmo.
Portanto, nunca esqueça de si mesma/ mesmo.

Com amor, Valéria