Você já olhou para os lados hoje?

Da hora que acordou até o momento em que começou a ler este artigo, viu quantas de nós, mulheres?
01/02/2021

Você já olhou para os lados hoje?

Da hora que acordou até o momento em que começou a ler este artigo, viu quantas de nós, mulheres?

Pois é... observe e constate o que escreverei aqui: somos muitas e estamos em vários lugares.
Somos de várias cores, regiões, etnias, religiões. Somos a colega de trabalho, a chefe, a médica, a colaboradora da limpeza, a caixa do supermercado, a vendedora, a escritora, a CEO, a enfermeira, etc, etc, etc.
Somos a que ama, a que foi amada, a abandonada, a que recomeçou, a que nunca tentou. A que sofreu violências, assédios, a que luta pelos direitos de cada uma e também a que não se importa ( sim, existe...).
A que tem dinheiro e a que tem riquezas que ele não compra. A que tem cultura e a que tem sabedoria.
A que cobiça e a que conquista.
Somos a mãe, a filha, a esposa, companheira, namorada, amante.
Somos cis e trans.
Somos a romântica e a nem tanto...
Somos a da dupla, da tripla, jornada. Somos de muitas jornadas.
Somos incontáveis, simples e complexas.
Somos tantas que descrições são insuficientes e podem até nos confundir e aprisionar.
Somos tantas e precisamos cada vez mais de lugares que nos permitam e ajudem a existir.
Eis aí uma das razões deste espaço de escrita.
Aqui abordarei temas como das as sugestões recebidas através do Instagram e Facebook: dinheiro (saúde financeira, investimentos), envelhecimento, carreira/ trajetória profissional, tempo, maturidade, gênero, que se somarão a outros, conforme caminharmos.
E como alguém que chega sem ser conhecida por todos, inicialmente gostaria de começar pelo meu lugar de fala, contando brevemente minha história, que pode ter alguma interface com as de vocês.
Nasci no interior de São Paulo, tenho mais de 50 anos. Sou mulher cis, branca, filha única de uma mãe que ficou viúva muito cedo e que me criou sozinha como uma leoa, na típica classe média dos anos 80. Ela me ensinou muito e se cheguei até aqui, foi graças à sua educação. Cresci vendo suas dificuldades e lutas e isto me marcou profundamente. Ela sempre me dizia para ser independente e hoje brinca que levei ao pé da letra essa lição.
Fiz o que deu, vivendo há mais de 30 anos numa cidade como São Paulo, que nos exige e nos ensina na mesma proporção.
Acertei muito, errei idem e ao longo deste processo, fui entendendo o que constituía o ser mulher numa sociedade que tem algumas regras bem claras (e muitas nem tanto) sobre como e quem nós devemos ser.
A Psicologia, tanto na minha prática profissional como na minha própria psicoterapia, me ajudou a entender boa parte disso, bem como as inúmeras mulheres que atendi e pesquisei em mais de 30 anos de profissão, além claro, de todas que são parte da minha rica rede de relações.
E talvez sejam estas as razões pelas quais sempre fui positivamente cobrada pra escrever, principalmente quanto comecei a estudar dinheiro.
Então, finalmente cá estou, para conversar e abrir espaço de trocas, afinal, conhecimento tem ainda mais valor quando compartilhado.
E eu olho para os lados, para trás e à minha frente, onde estão todas vocês e começo a escrever...
Vamos lá?
GÊNERO: Prestem atenção a esta palavra/ conceito.
É algo muito importante que precisam saber, pois muito do que somos ou não, devemos a ele, que faz parte do macrossistema que habitamos, a nossa sociedade.
Para esclarecer melhor, usarei uma explicação retirada de meu doutorado: “entendemos gênero como o sexo socialmente construído a partir da sexualidade biológica. Consiste em um conjunto de práticas, normas, valores e crenças a partir das diferenças biológicas entre os sexos, ampliado de forma distorcida de acordo com cada cultura. Visa uma ordenação de condutas tendo como premissa oculta o jogo de poder e dominação, prescrevendo domínios e comportamentos para homens e mulheres. Enquanto sexo é biológico, gênero é eminentemente social.”
Perceberam o que aconteceu? A sociedade usou as características biológicas para designar e prescrever comportamentos e papéis tanto a nós mulheres, como para homens. E de verdade, creio que ambos sofrem por isto, embora nós mulheres, “pagamos uma conta” mais alta, inclusive nas diferenças salariais.
E porque que começo falando de gênero? Porque ele será a base, o “pano de fundo” de tudo que eu escrever aqui sobre nós mulheres ( e homens também).
Porque mesmo parecendo natural, básico, simples, nossas vidas foram estruturadas pelo gênero, queiramos ou não. E tudo bem, desde que não haja diferenças que produzam dor, o que nem sempre acontece.
Então, um pequeno exemplo, vindo de meus estudos sobre dinheiro: nós mulheres nos sentimos inadequadas ao usá-lo enquanto os homens mostram-
se seguros e hábeis. Vamos analisar: quantas de nós fomos educadas para pensar em dinheiro? Isto é o que gênero faz: delimita territórios. Não deixe que aconteça nos seus.
E como fazer para identificar as questões de gênero? Observando e questionando tudo aquilo que lhe gerar desconforto ou impuser limites inexplicáveis e desnecessários. Felizmente há uma nova geração mais atenta a tudo isto e já fazendo diferente, o que é um alívio.
Enfim, este é um contexto importante dos meus textos e das nossas vidas: gênero.
Fiquem atentas, vivam suas histórias e até breve.